Lugar para lanches e amizades: San Laurent
Carolina Freitas
Estrangeira no nome, mas brasileira em sua essência, a padaria San Laurent é daquelas que, de fininho, conquista corações. A princípio simples passagem, o local se desdobra em uma relação de afeto, carinho e preocupação. Lugar para se fazer lanches, há mais de 30 anos é lá também que são feitas amizades que fazem dos fregueses uma unida família.
Grande no número, a San Laurent ganha novos admiradores praticamente a cada atendimento. Familiar, o empreendimento é mantido pelos irmãos Conceição, Clemente, Mário, José e Lídia. Presente no funcionamento e cotidiano da loja, eles são exemplo de dedicação ao trabalho e preocupação genuína com a equipe e clientes.
Certeza de acolhimento, para Conceição são diferenciais da casa a presença dos irmãos no negócio e a simpatia nas relações. “Os clientes têm que ser tratados com carinho, respeito e atenção. São no mínimo três gerações que nós já atendemos”, pontua Conceição Magalhães Gonçalves, de 67 anos.
Fundada em 1988, mas assumida pela família em 1990, a padaria acumula mais de três décadas sob gestão dos irmãos e um doce legado. Famosa pela venda de janeiro a dezembro de rabanadas, a San Laurent faz questão de dividir com o público os sabores, amizades e emoções que compõem a receita para uma vida mais feliz.
Do simples cafezinho e pão na chapa às rabanadas cuja receita pertenceu à portuguesa Filomena, matriarca da família, a empresa se consolidou em sua maneira própria de preservar tradições. Tanto aquelas ditadas na cozinha, quanto a magia que paira sobre o balcão e o atendimento: próximo do cliente, leve e descontraído.
Raridade no comércio atual, na San Laurent os atendentes conhecem o público pelo nome e seus pedidos sem que seja necessário proferir uma única palavra. Balconista, Tetê é conhecida por sua fala doce e pela capacidade de acolher. Colaboradora da empresa há 20 anos, atua onde se faz necessária no que descreve como sendo sua segunda casa.
“O cliente aponta na esquina e a gente já pega a xícara e apronta o pedido. Quando eles chegam dizem assim: não acredito, leram o meu pensamento! Quando calham de trocar é que a gente morre de rir”, divide Tetê, que aos 62 anos se diz grata pelas amizades possibilitadas pelo trabalho. “Nem parece comércio. É sempre alegria e um até amanhã”.
Uma das freguesas cativadas pela casa, Dona Lucimar da Rocha Cordeiro, de 73 anos, é vizinha de frente da padaria e uma de suas frequentadoras assíduas. Cliente há pelo menos duas décadas, Lucimar cultivou o hábito de tomar café no local com seu falecido pai, o Sr. Cordeiro, corretor de imóveis, e desde então não parou mais.
Habitado por memórias afetivas, o ambiente se mostra um espaço onde se revivem lembranças do passado e onde, diariamente, são escritas novas memórias. “Enquanto ele esteve vivo, íamos juntos, e eu continuo indo. Lá é o sal da terra: são as amizades e a sensação de estar rodeado pelas pessoas que a gente respeita e gosta”.
Cortês, como são descritas por Lucimar, as relações florescem em “amizades belíssimas”. Para ela, o café não se dá por concluído antes de um bom papo e uma rosquinha para fechar o pedido. No caso de seu pai, o hábito era outro: “Ele era fã de pastel, então o café da manhã dele terminava sempre em pastel”, se diverte enquanto recorda a aposentada.
História que se renova
Embora quem frequente a padaria com frequência já deva estar familiarizado com boa parte de sua história, um aspecto em particular talvez ainda seja desconhecido por alguns. Marca registrada da padaria, por incrível que pareça o supervisor geral Paulo Henrique de Moraes, o Paulinho, de 55 anos, tem mais tempo de casa do que os proprietários.
Com 33 anos de San Laurent, Paulinho trabalhava para o antigo dono da padaria, na antiga San Michelle. De lá foi transferido para o empreendimento na 16 de março, onde permanece até hoje. “Meu filho mais velho tem 33 anos. O mesmo tempo que eu tenho aqui. Eu fiz a minha vida aqui dentro”.
Duradouros, os laços existentes na padaria se comprovam também pela trajetória do padeiro Carlos José de Freitas, de 59 anos. Carlinhos é amigo de infância dos irmãos de Conceição e teve seu primeiro emprego de carteira assinada formalizado por ela, que trabalhou no setor de RH do antigo supermercado Casas da Banha.
Entrelaçadas, suas histórias ganharam novos capítulos com o passar dos anos. Padeiro da San Laurent há 30 anos, hoje, além do primeiro emprego, sua aposentadoria também foi assinada por Conceição. Comprometido a depositar amor e carinho em tudo que se propõe, Carlinhos é sinal de dedicação e alegria no dia a dia.
“Tem que trabalhar para, no final das contas, conquistar não só você, mas todos da firma”. Como ele, quem também se tornou um admirador do trabalho realizado na empresa é o supervisor André Angelo, de 44 anos. Entre indas e vindas, ele tem 16 anos de caminhada lá dentro e diz com satisfação que é de lá que tira seu sustento e algumas inspirações.
“Aqui é diferente porque eu vejo a preocupação que os proprietários têm com os funcionários. Eu admiro muito essa parceria e amizade porque não é como empregado e patrão, é amigo, e isso cativa a gente”. Entre rosquinhas, pães de queijo, médias, rabanadas e tapas na cara, o maior atrativo da San Laurent, de longe, é o carisma.
Fotos: Petrópolis Sob Lentes