Carlins Colchões e a arte da entrega ao outro
Carolina Freitas
Esquina entre as ruas Paulino Afonso e Francisco Manoel, desde 1988 a casa ocupada pela Carlins Colchões simboliza o ponto de encontro entre caminhos e, a partir de uma óptica mais aprofundada, o momento em que um sonho dá lugar a outro. Referência pela venda de colchões, o empreendimento tem na obtenção da confiança sua maior conquista.
Ambiente de união de ruas, a casa em que opera a Carlins Colchões também é lar de quem, inspirado pela fusão de caminhos, se vê encorajado a encurtar seus processos. Dessa forma, embora confiança e adaptação requeiram tempo, graças à credibilidade do empreendimento o público se sente à vontade para também nele acreditar.
“O maior prazer é saber que a pessoa fez um sacrifício na compra do colchão porque acreditou em você”. Administrada desde o princípio pelo comerciante Luis Gastão Veiga, de 58 anos, a loja, a exemplo do imóvel em que está localizada, funciona a partir da junção de valores que, quando somados na equação, resultam em credibilidade.
Filho do também ex-comerciante Paulo Veiga, então proprietário da empresa Líder, de materiais de construção, Gastão perdeu o pai aos 17 anos de idade. Chegando a trabalhar junto dele em um dos empreendimentos da família, o petropolitano aponta o referido período como a escola que, até hoje, continua a fornecer a base para sua atuação.
“Meu pai me ensinou a ser sério e honesto. Se você é transparente tudo se resolve”, descreve Gastão que, de outros três irmãos, foi o único a se tornar comerciante. Para ele, uma das mais gratificantes realizações proporcionadas pelo ofício é o prazer da venda. Atividade esta que, no começo, se resumia somente à figura dele.
“Durante uns dois ou três anos eu trabalhava aqui sozinho. Fazia as entregas, fechava no horário do almoço para ir ao banco e muito raramente conseguia almoçar”. Desdobramento da Carlins Plásticos, que teve no pai de Gastão um dos fundadores, a Carlins Colchões conta hoje com filiais na Irmãos D’Angelo e Itaipava e apoio de sua esposa Valnete.
Pela norma, a média de intervalo entre a troca de colchões costuma se dar num período de cerca de cinco anos. Ainda assim, a partir do retorno dos fregueses, Gastão se revela parte fundamental da história de centenas de famílias que recorrem ao negócio na aquisição dos colchões de seus filhos na infância, adolescência e, mais tarde, dos netos.
Individualizado, o atendimento é duradouro – tanto pela maneira como é conduzido, uma vez que são vários os fatores levados em consideração, quanto pela certeza do retorno e acompanhamento que atravessa gerações. E foi em uma de suas primeiras vendas, ainda na época em que atuava sozinho, que Gastão definiu uma de suas missões no segmento.
Após realizar a entrega de um comprador que solicitou a retirada de seu colchão antigo, o comerciante o levou para a loja sem saber o que fazer com a mercadoria. Eis que, um jovem morador da região, solicitou o item. No dia seguinte, ele descobriu que o gesto havia mudado a vida da família do rapaz, que até então dormia no chão.
“Dali para frente eu sempre passei a perguntar o que a pessoa faria com o colchão antigo e hoje tenho uma lista aqui de mais de 50 nomes que pedem por eles. Vou anotando e colocando em espera. A gente não tem noção de como as pessoas precisam de uma coisa básica que é o colchão. Recebo pessoas da cidade inteira”, destaca.
Ponto de partida para bons dias
Departamento em que experimentação e adaptação são imprescindíveis, a troca de colchões reverbera as dúvidas e inseguranças de quem vivencia mudanças. Para o vendedor Mauro Gonçalves Bernardino, de 34 anos, o ambiente lhe forneceu a confiança necessária para obter êxito em seu primeiro emprego e transmitir o sentimento ao público.
Acolhido por uma equipe que o ensinou tudo que sabe sobre o assunto, Mauro está há quase 15 anos nesta caminhada em que o cuidado com o cliente se faz primordial. “Colchão não é só espuma. Com o uso diário você precisa garantir que vai ter um bom descanso para viver bons dias. Por isso essa personalização. Não é só vender”.
Atrelado a diferentes tecidos, densidades, alturas e medidas, o colchão e quem o utiliza precisam ser compreendidos por quem vende. Quando isso ocorre, é a união ideal entre propósitos e caminhos. “Esses dias mesmo um rapaz que comprou o colchão há nove anos trouxe a etiqueta com a notinha fiscal. Ele lembrava de mim e quis voltar”.
Muitas vezes semelhante a uma consulta, a venda é envolvida pelo compartilhamento de queixas e solicitações que, aos ouvidos de quem possui bagagem no tema, resulta na receita ideal para o bem estar. Funcionária “coringa” da empresa, uma vez que teve passagem por todas as lojas, Elisabeth Lennertz trabalha há 13 anos na Carlins Colchões.
Experiente no comércio, Beth, de 65 anos, teve na firma seu primeiro envolvimento com o ramo dos colchões: uma área prazerosa pela compreensão e solução que oferece aos problemas vividos pelo outro. “A gente escuta muito o que a pessoa sente, o problema dela. O Gastão fala que a gente dá muita consulta. Muitos vêm conversar e até desabafam”.
Também vendedor e parceiro de longa data é Carlos Eduardo Teixeira Espíndola, de 41 anos. Natural da Posse, onde durante um bom tempo Gastão gerenciou um posto de gasolina, Eduardo conheceu o comerciante ainda na infância. Filho de caminhoneiro, ia ao local com frequência para recepcionar o pai. Com isso, surgiu a amizade entre os dois.
Com passagens por uma padaria e mercado, Eduardo não demorou a ser convidado por Gastão para se juntar à Carlins Colchões. Afinal, com exceção das torcidas que se diferem – Eduardo é flamenguista e Gastão é tricolor – os dois se entendem e já dividem uma parceria nos negócios que já se aproxima dos 20 anos.
“A gente dá valor ao que o cliente precisa. Tenho casos de pessoas que compraram colchão comigo, venderam a casa e retornaram para serem atendidos novamente”. Em constante atualização, o ramo é amplo e sinal de novidades frequentes. Ainda assim, um aspecto se mantém o mesmo: o fio de confiança que mantém unidas todas as partes.