Aladim: Rei dos Lustres e do trabalho realizado
Carolina Freitas
Traduzido do árabe como “nobreza da fé”, em Petrópolis o termo Aladim traduz a confiança que reside no trabalho. Iniciada há mais de 40 anos, diferente do conto, nesta história a mágica é escrita graças aos esforços de uma vida. Aladim Lustres, o empreendimento petropolitano não concede desejos, mas os meios para conquistá-los.
Embora na trama original um jovem se depare com uma lâmpada mágica, no comércio petropolitano foi ele quem a construiu. Conta o senhor Vanir Lúcio Moreno de Macedo, de 74 anos, que foi em 1978 que se deu seu primeiro envolvimento com o ramo dos lustres. Na época, ele fundou um lampadário que, anos mais tarde, viria a se chamar Aladim.
Funcionário da extinta Sapataria Messa e da Feira Calçados, Vanir foi taxista, proprietário de um restaurante na Coronel Veiga ao longo de cinco anos e, em 1978, fundador do Lampadário. Convicto de que, a exemplo do personagem, o destino está nas mãos de quem o escreve, desde então ele tem se dedicado a construir o seu de maneira honesta.
A princípio uma fábrica de lustres na Coronel Veiga, com o passar do tempo o negócio tomou outras formas e, em 1982, foi transferido para o Centro já sob o nome de Aladim. Nessa época, a loja ficava em frente ao endereço atual, próximo à Supersport. Em 1990, o empreendimento foi transferido para o local em que permanece até hoje.
“São mais de 40 anos dentro do ramo. Quando eu comecei a trabalhar, fui vendo a coisa progredir e aquilo foi me dando alegria. Sempre me deu alegria trabalhar”. Diariamente envolvido com as atividades da empresa, Vanir se tornou referência na cidade pelos lustres que comercializa e, em 1993, fundou também o Lampadário Itaipava.
Combinação de artigos de decoração, utilidades do lar, material elétrico e tapetes, o estabelecimento do terceiro distrito se tornou seu palácio particular no qual concede os meios para os clientes realizarem seus desejos. Não é à toa que, com isso, Aladim tenha se tornado um símbolo de companheirismo em sua caminhada.
Vanir conta que, durante uma viagem aos Estados Unidos, fez questão de trazer para casa uma réplica do personagem para manter na loja do Centro. Com a enchente do dia 15 de fevereiro, o estabelecimento foi tomado por cerca de 1,6 metro d’água. As mercadorias foram levadas e, por pouco, acreditou-se que o pequeno Aladim também.
“Eu falei: ele foi embora. Puxando a lama daqui e dali, quem nos aparece? Era o Aladim no meio da lama. Aí o apanhamos, limpamos todinho e voltamos com ele para o balcão. Só perdeu o turbante”. Frente a um momento de tamanha perda e vulnerabilidade, reencontrá-lo foi o mesmo que reencontrar esperança para continuar.
Esposa e braço direito de Vanir nos negócios, Miriam Wentrick de Macedo, de 50 anos, conheceu o marido quando foi admitida pela empresa em 1988. Testemunha e parte do processo de crescimento do negócio, ela fala sobre os obstáculos com que se depararam recentemente e sobre o papel interpretado pelo empreendimento na vida dos dois.
“É um momento difícil. É a nossa história. Uma história toda dele que não podemos deixar morrer. O Vanir sempre teve essa visão de estar à frente e atender o público realmente”. Narrativa da qual todos que com ela interagem se sentem parte, há 10 anos Denise dos Santos também passou a integrar o universo da Aladim.
Contratada como vendedora e hoje na posição de gerente, Denise vem de uma família de comerciantes em que divide com o pai e os irmãos o gosto pela interação com o público. Ambiente de troca diária com os fregueses, ela relata o elo precioso construído com eles: verdadeiramente preocupados com a loja e a história escrita até agora.
“Tem cliente que vem trazer lanchinho para a gente. Depois da tragédia muitos vieram nos perguntar como estávamos, se nossas famílias estavam bem e pedindo pelo amor de Deus para continuarmos porque eles amam a loja”. Diretamente prejudicados pelas enchentes de fevereiro e março, a Aladim tem em sua narrativa a força necessária para continuar.
Constantemente peça fundamental em momentos significativos da vida dos públicos, a empresa tem um quê de mágica que a envolve. “Atendemos famílias que estão construindo suas casas. Às vezes é o primeiro imóvel, aí vem todo mundo junto. Eles pedem opinião, voltam para falar que gostaram do atendimento”, aponta Denise.
Ambiente familiar da fundação ao acompanhamento do público, a Aladim envolve e encanta como faz o gênio da lâmpada. Cliente assídua e admiradora do trabalho realizado pelo local, a professora aposentada Nara Farjalla, de 75 anos, teve no local o suporte técnico e, por que não, afetivo de que precisava quando se mudou para Petrópolis.
Habituada a criar, ela encontrou na loja as mercadorias necessárias para as reformas que realizou em seu novo lar e, mais ainda, os instrumentos para se reinventar. Com a sobra de materiais das obras, Nara passou a transformar peças restantes de que já dispunha em criativas obras de arte de decoração combinadas a itens adquiridos na Aladim.
Artesanato de um modo menos convencional, pelas mãos de Nara um trecho de janela se transforma em uma peça decorativa com uma luminária acoplada adquirida junto à funcionária Denise. “Meu entrosamento com ela é muito grande. Eu chego lá com uma ideia e ela embarca. Sempre interajo peças que eu compro nas lojas com aquilo que eu crio”.
Regidas pela sensação de pertencimento, as relações na empresa implicam parceria. “Senti muito quando teve a enchente. Fiquei triste porque eu lembrava de cada coisa que tinha lá, que eu conhecia, gostava, e que a água levou. Quando me mudei para Petrópolis eu consegui encontrar lojas parceiras, que eu gosto de ir, às vezes para conversar”.
Tradução da confiança no trabalho árduo, a Aladim Lustres pode não ter tido nenhum gênio da lâmpada para ampará-la, mas certamente é envolta em magia e na certeza da conquista de um dos principais desejos comuns a todos: o de ser apreciado por quem é e pelo trabalho que se faz.