Supersport: há quase 70 anos tradição no comércio e na vida de Petrópolis
Primeira loja de artigos esportivos em Petrópolis, a Supersport se caracteriza pelo pioneirismo no segmento e, mais ainda, por sua capacidade em preservar preciosas lições dadas pelo esporte. Prestes a completar 66 anos de fundação, o estabelecimento é a certeza de que é em conjunto que se constrói a partida e o legado de uma vida.
Mais longa do que o normal, a partida da loja não é mensurada por minutos, mas em anos. Onde, ao invés de gols marcados, a vitória é ditada pelos ensinamentos adquiridos, o empreendimento teve na figura do comerciante Fernando Lannes do Carmo seu primeiro técnico. Funcionário da então Superball, ele foi destaque por seu comprometimento.
Como descreve sua filha, a também comerciante Teresa Cristina Carneiro do Carmo, de 61 anos, de funcionário, o pai se tornou sócio da Superball e, posteriormente, proprietário da Supersport. Contratado como comprador, no escritório da loja, Fernando trilhou sua carreira como administrador da empresa e como alguém que soube dar um show em campo.
Masculina, a Superball se caracterizava pela venda de artigos esportivos e pelos serviços de alfaiataria. Com 15 lojas espalhadas pelo Estado, o comerciante trabalhava nas filiais do Rio e, somente às quartas, permanecia em Petrópolis. Com o fim da sociedade, após o falecimento do sócio Valdemir, a cidade voltou a ser sede de suas principais partidas.
“Até meus 19 anos meu pai saía de manhã e chegava à noite comigo dormindo, mas depois isso mudou. Comecei a ajudar na loja e nosso convívio se tornou próximo”. Tendo na organização sua principal tática, Fernando transmitiu à filha o amor pelo comércio, o jeitinho próprio de se relacionar com os fornecedores e a busca pelo ato de empreender.
Cristina deu início à faculdade de Economia aos 17 e, já aos 19, passou a trabalhar junto do pai na loja, onde permanece até hoje. Tomando “amor pela coisa”, ela acumula mais de 40 anos de experiência, lembranças e um carinho pelo negócio que a mantém como atacante na implementação de novas estratégias, ao mesmo tempo que em defesa da tradição.
“Às vezes eu tinha que cumprir até mais do que os funcionários porque eu precisava dar o exemplo. Até os 80 anos do meu pai ele vinha aqui. Os amigos passavam para tomar um café, bater um papo. A mesinha dele ficava lá no canto”. Desafio que requer habilidade e jogo de cintura, o comércio tem sido, para Cristina, um aprendizado constante e diário.
“Eu aprendi que tudo muda. É uma metamorfose. Você acha uma coisa hoje, mas isso não quer dizer que vai ser assim sempre”. Chegando a contar com outras filiais na cidade, como no Edifício Vitrine, no Hipershopping ABC e no Marchese, com o passar dos anos o empreendimento também mudou o foco de suas vendas.
Companheiro de Cristina desde o seu começo na loja, Arnaldo de França e Silva Junior, de 64 anos, fala sobre a dedicação da esposa à manutenção de um legado de uma vida. Afinal, foi em busca de um novo público que a petropolitana diversificou a loja e a tornou especializada na venda de artigos que vão desde o vestuário a equipamentos e aparelhos.
“A grande vantagem da Cristina é que, ao longo dos anos, ela começou a ver as novas necessidades do público. Além de administrar a loja e desempenhar um pouco de todas as áreas, ela consegue executar as compras. É como se ela vestisse milhares de pessoas dentro de um vestuário com infinitas peças”, exprime Arnaldo.
Escalado o time de jogadores
E se realizar a compra das mercadorias não é tarefa fácil, imagina ter que escalar o time ideal de jogadores. Mas até que isso não foi problema, a começar pelos tempos do Sr. Fernando. Prova disso é o ex-funcionário José Viveiros de Faria, que colaborou com a empresa de 1962 a 1971 e, até hoje, a guarda com respeito e admiração.
Natural de Bemposta, em Três Rios, Viveiros veio a Petrópolis em busca de mais oportunidades. Trabalhou em bar, restaurante, hotel, foi trocador de ônibus, serviu ao exército e, aos 20 anos de idade, entrou para a Superball. Contratado para fazer as cobranças da loja, ele viveu no estabelecimento momentos decisivos no jogo de sua vida.
“Meu sonho era ser o cargo melhor da loja, mas eu não parava por aí”. Vindo da roça, Viveiros mal sabia escrever quando chegou a Petrópolis e, de cobrador na Superball, não só passou a balconista e funcionário do escritório, como, sobretudo, enxergou novas possibilidades para ir direto ao ataque e definir, ele próprio, o destino da partida.
Numa rotina em que o expediente no serviço acontecia durante o dia e os estudos no Cenip eram realizados à noite, ao mesmo tempo em que Viveiros crescia na Superball, ele também garantia seu curso técnico em Contabilidade. “A loja foi uma escola. O ambiente onde tive uma formação profissional, aprendi tudo e vi um futuro”, descreve.
Mais tarde tendo ingressado na universidade, no curso de Direito, Viveiros passou a colecionar conquistas que, tal qual medalhas, atribuíram significado e o estimularam a conquistar cada vez mais no campeonato da vida. Foi eleito vereador em meados dos anos 80 e chegou, inclusive, a ser vice-presidente da Câmara Municipal de Petrópolis.
“Minha vida sempre foi assim. Sempre quis crescer”, diz. Aberto, desde o princípio, a profissionais com menos experiência, o estabelecimento sempre teve no potencial do coletivo seu maior título. Funcionária da Supersport há quase duas décadas, Carine Rosa da Silva, de 43 anos, remonta seu começo na empresa, ainda como caixa.
Graças à paciência e à liberdade oferecidas pela empresa, Carine obteve experiência, se tornou gerente da loja e é hoje a funcionária com mais tempo de casa. Até porque é isso que o local representa: lar onde se casou e até família constituiu. “Engravidei de gêmeos e até hoje tem cliente que entra aqui, se lembra de mim grávida e pergunta dos meus filhos”.
Tratados com carinho, os funcionários são parte da cidade tal qual a Supersport é para o comércio. Reconhecido pelo público como “aquele que vem de bicicleta”, o vendedor Márcio Bernardo da Silva, de 51 anos, acumula 11 anos de loja, muitas amizades e o carinho do público que, até com alimentos, o presenteia.
“Busco sempre tratar os clientes bem. Eles me dão cesta básica, empadão”. Gerenciada, anos a fio, pelo flamenguista Fernando, a Supersport se tornou sinônimo para o superlativo de quem, a exemplo do nome da loja, soube observar e empregar as principais lições dadas pelo esporte na construção da tradição e do legado de uma vida.
Texto: Carolina Freitas.