Mac’s preserva carinho e lealdade da clientela
Carolina Freitas
Qual é a moeda que rege as suas transações? Não as financeiras, mas as trocas que atribuem significado à vida? Escambo no passado, hoje o câmbio de bens acontece pela cessão do tempo, da preocupação genuína e da escuta afetiva. Há 52 anos no comércio petropolitano, é o que atesta a relação entre a loja Mac’s e seus leais fregueses.
Descrita pelo sociólogo polonês Zygmunt Bauman como uma “modernidade líquida”, a sociedade, da segunda metade do século XX para cá, teria assumido um aspecto de fluidez. Realidade em que as mudanças acontecem com rapidez, as pessoas também caminhariam rumo a laços cada vez mais volúveis e superficiais.
E embora esta seja uma realidade cada vez mais presente na vida em comunidade, na Rua do Imperador, número 1.016, as relações ainda preservam a genuinidade. Fundada no dia 1º de abril de 1970, a loja está há 52 anos no mesmo endereço e na companhia fiel de fregueses que, desde então, se recusam a fazer compras em outro estabelecimento.
Cliente do negócio há mais de 50 anos, Antônio Anderson Pacheco tem 67 anos, foi funcionário da Mac’s na adolescência e, desde então, se veste da cabeça aos pés com artigos adquiridos no negócio do Sr. Macedo. Descrita por ele como uma família, a empresa lhe concede bens, serviços e, mais ainda, a construção de amizades duradouras.
“Nunca comprei em outro lugar e, se não tem o que eu quero, paciência. Espero ter, vou lá e busco. Além de ter qualidade, preço e garantia, o atendimento é perfeito. Mac’s para mim é tudo”. Habituado a estar na loja simplesmente para conversar, Antônio destaca a admiração tida pelo Sr. Macedo: idealizador e proprietário do empreendimento.
“Ele está há 50 anos de pé no comércio e nunca fechou as portas para ninguém por falta de dinheiro ou garantia. Isso aí é um herói. Sabe se reerguer. Tomara que todas as cidades tenham outras Mac’s e outros Macedos que nem ele”, expressa o ex-funcionário, cliente assíduo e fã assumido do negócio, que tem em sua linha social masculina seu pilar.
Abreviação de Macedo, a Mac’s transmite a ideia de pertencimento tida pelo visionário perante o patrimônio construído com base em seus esforços. Aos 80 anos, Newton Macedo, natural de Três Rios, continua a dedicar seus dias a manter vivo um sonho do qual, há meio século, nutre com seu incessante trabalho.
Matriculado em um colégio interno junto dos irmãos em Petrópolis aos 8 anos de idade, Macedo aprendeu, desde bem cedo, a ser forte – para ele e os demais. Algum tempo depois foi aluno de externato e, em seguida, passou a morar em uma pensão. Era um quarto para quatro irmãos. Iniciada com “bicos”, sua carreira foi marcada por múltiplos professores.
Disposto a obter o máximo de experiências que pudesse, o comerciante foi empregado da Casa Nova, Casa Gelli, Martins Filho, Relojoaria Ângelo, Bel Modas, Sapataria China, Companhia Brasileira de Energia Elétrica, trabalhou em bancos (Delta, BCN, Monteiro de Castro), teve carroças de cachorro-quente, e foi sócio-fundador da antiga loja Frima.
Duramente afetado pelas duas grandes enchentes que invadiram o comércio do Centro da cidade, Macedo já havia ficado 105 dias fechado devido à pandemia e, antes disso, tido o negócio comprometido por conta de um incêndio ocorrido em um prédio próximo que, por meses, manteve a calçada da loja com pouca passagem para o público.
No dia 15 de fevereiro, somadas as perdas da Mac’s e Jovem Mac’s, situada na Galeria Gelli, foram pelo menos 1,5 mil peças descartadas. Da segunda vez, mais de 700 itens danificados. Amparado pela preocupação dos clientes, o empreendedor tem buscado lidar com um dia de cada vez na certeza de que irá vencer.
“Tenho 80 anos e nunca fui derrotado. Comecei do zero em uma cidade onde eu não conhecia ninguém, interno em um colégio em que eu via meus pais uma vez por mês. Se eu venci com o trabalho, eu não posso desistir”. Ao seu lado há 37 anos, quem compra suas lutas e o auxilia no gerenciamento das lojas é a esposa Sonia Jeronymo Dias, de 56.
Familiarizada com a Mac’s desde os 15 anos de idade, quando foi contratada como funcionária da empresa, Sonia enxerga a empresa como a construção de uma vida da qual fica feliz em fazer parte. “O Macedo é uma pessoa super correta, exigente, e que nos ensina muito. Até hoje aprendo com ele”, descreve.
Uma família crescente
Ambiente no qual os clientes são tratados pelo nome, para quem atende e é recebido a sensação é a mesma: de estar em família. Elisabete Rabello, de 66 anos, é frequentadora da loja há mais de duas décadas. Já tradição em sua casa, a preferência pela Mac’s passou a ser dividida entre suas filhas e genros.
“É como se eu estivesse na minha casa. A funcionária Jaqueline já sabe do meu gosto e me liga sempre que chega uma peça com a minha cara. O Macedo e a Sonia sabem o que os clientes buscam, trazem itens de bom gosto e excelente qualidade. São pessoas muito queridas e que trazem um diferencial para Petrópolis”, pontua dona Bete.
Relação de respeito, carinho e admiração, a troca é de bens, serviços e preocupação. Afinal, quem se preocupa, cuida. Daí o atendimento às vezes caminhar para conversas que abastecem o guarda-roupa e, principalmente, o espírito de quem sai de lá com a sensação de ter se renovado.
Funcionária mais antiga da loja, Ana Lucia Rodrigues Ferreira, de 49 anos, colabora com a empresa há 26 deles. Contratada para cumprir funções de escritório, ela fala sobre o ambiente leve construído que permite à equipe e aos clientes caminharem por diferentes assuntos e ir além do ato da venda e da compra.
“A gente conhece muitas pessoas e ajuda muitas delas. Tem cliente que vem aqui conversar. Existe uma amizade e uma troca de confiança em abrir sua vida”, expressa Ana. Como ela, o vendedor Jadir Pitzer, de 62 anos, coleciona experiências positivas e a consideração perante os fregueses e por parte deles.
Atuante no ramo de trajes masculinos desde 1980, Jadir tem passagens pela Fiorentex, Predileta e Gisele Jeans. Conhecido por seu atendimento de excelência, ele explica que, tamanho é o envolvimento com o ofício e clientes, que o atendimento acontece mesmo quando está em outro ambiente.
“Sou da Igreja Cristã Maranata há 34 anos, então tenho muitos clientes evangélicos. Você se torna uma extensão da loja porque os contatos te levam a isso”. Certo de que o atendimento consiste em princípio, meio e fim, Jadir se esforça para fazer da venda o casamento perfeito de interesses conquistados.
“O produto atrai o cliente, e quando o cliente encontra um produto de que gosta, somado a um atendimento a altura, é o casamento perfeito”. Troca de bens, assim opera o comércio tradicional: sabendo que, entre um atendimento e outro, existe a cessão do tempo, da preocupação genuína e da escuta afetiva. Essas sim as principais moedas das transações.